Como os bairros populares acessam o metrô de Salvador - BA?

Isis Pitanga

Arquiteta Urbanista | Pesquisadora UFBA 

É percebido cotidianamente como o crescimento das cidades brasileiras, de modo geral, têm impactado diretamente na mobilidade, principalmente por conta do excesso de veículos motorizados nos espaços urbanos, fazendo com que pareçam o único meio de locomoção da cidade. Para aqueles que possuem condições financeiras, o deslocamento, apesar de custoso e desgaste, ainda é possível e de certo modo confortável. No entanto, para aqueles que possuem menor renda, a mobilidade urbana em Salvador especificamente tem se mostrado um desafio. A combinação de elementos que compõem a mobilidade (modos de transporte, infraestrutura, rede, etc) e a disposição física e estrutural da cidade faz com que as funções urbanas não sejam usufruídas de maneira satisfatória e igualitária pela população, cerceando o direito à cidade. 

Com a implantação do metrô em Salvador houve esperança que as pessoas acessassem um transporte de massa de qualidade e rápido, principalmente aqueles que mais precisam do transporte público. Contudo, o cenário que se apresentou foi totalmente diferente, pois esse meio de transporte apresenta uma acessibilidade deficitária, desconsiderando totalmente a dimensão micro e a mobilidade ativa, constituída por pedestres e ciclistas. A escolha do seu modo de implantação no centro das vias de alta velocidade, sendo um sistema elevado em quase 100% do seu percurso, contribui para uma desconexão com os espaços geradores de usuários para o sistema, dificultando o seu acesso, principalmente se pensamos em Salvador, uma cidade que a sua topografia já é um desafio, formado por vales e cumeadas.

É a partir daí que surge a minha pesquisa de mestrado, que tem o intuito de investigar a microacessibilidade dos bairros populares periféricos de Salvador ao metrô da cidade e quais conexões foram estabelecidas com esse modal de transporte. Mas o que é microacessibilidade? 

A microacessibilidade está relacionada com a facilidade ou não de chegar e sair de um local, seja o embarque de um transporte coletivo até o destino final, como uma edificação. É a capacidade dos pedestres e/ou ciclistas de acessarem os seus destinos, e é comumente associada à qualidade do ambiente urbano, à segurança, à acessibilidade, ao conforto e prazer que o espaço público proporciona. Todos nós usufruímos da microacessibilidade, mesmo aqueles que possuem carro!

É a partir desse conceito que a pesquisa se orienta para estudar quais são as facilidades, obstáculos e barreiras que os moradores dos bairros populares periféricos enfrentam para acessar o metrô, muitas vezes tendo que transitar em ambientes com pouca ou nenhuma infraestrutura viária. 

Diversos questionamentos aparecem a partir disso, para mim o principal deles é: para quem Salvador está sendo produzida? Apenas para os carros e para quem pode acessá-los?